Senhora de Mércoles: fé, memórias e convívio entrelaçam-se

A Senhora de Mércoles mobiliza a cidade de Castelo Branco por três dias e atrai centenas de pessoas para a procissão. Albicastrenses reúnem-se no feriado municipal para celebrar a fé, resgatar memórias e reviver tradições na terceira semana que se segue à Páscoa, revelando o enraizamento do culto à santa padroeira da cidade na cultura popular.

Há muito tempo que esta é uma tradição para a Rosário Martins, que participa da celebração de Nossa Senhora de Mércoles todos os anos, “desde que me conheço por gente”, diz. A auxiliar, de 56 anos, conta emocionada que a fé motiva-a a estar sempre presente, ainda que sem companhia. Com os pais já falecidos, Rosário mantém recordações vivas do passado, “eu e o meu pai vínhamos por aí afora, trazíamos o fernel, juntávamos todos no relvado, comíamos e passávamos o dia inteiro até à noite” relembra.

Todos os anos no terceiro domingo após a Páscoa, a festividade de Nossa Senhora de Mércoles inicia-se com uma missa campal no fim da manhã, seguida de procissão e eucaristia. O rito repete-se no mesmo horário durante os dois dias seguintes, com o terço sendo recitado na capela no período da noite.

A terça-feira é o ponto alto da cerimónia, a despedida da santa. Este é o dia do feriado municipal de Castelo Branco, portanto a maior parte dos albicastrenses é dispensada da rotina de trabalho e chega em centenas de pessoas para acompanhar a missa e a procissão. Membros da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, além de figuras políticas do distrito, também estão presentes neste dia.

Mesmo longe da terra onde nasceu, Maria José Martins, irmã de Rosário, prometeu ir à procissão sempre que puder, “foi uma promessa, já faz muitos anos, mas é sempre a mesma devoção e o mesmo amor que trago à santa, desde criança”. Nas mãos, carrega cinco velas acesas a derramar um líquido, uma para cada filho e duas para os pais. Estas são acesas nos três dias de procissão para rezar pelos vivos e pelos mortos.

Assim que a procissão encerra o trajeto em torno do Santuário de Nossa Senhora de Mércoles, faz-se um intervalo para o almoço. Em tendas grandes, os restaurantes montam grelhas e mesas, as quais Gonçalo Esteves, de 39 anos, diz ser “modernices do século XXI”. Sob a sombra das árvores, o policial reúne a família e os amigos para “voltar às velhas tradições”, afirma.

Para conseguir um sítio com sombra e boa localização, Gonçalo e o colega José Luís Conceição, de 54 anos, chegam às seis da manhã e trazem mesas e guarda-sóis para acolher o grupo de cerca de 50 pessoas. Com a grelha a arder, o construtor civil, José Luís, anuncia a ementa, “espetadas à moda de Cabo Verde, sardinhas que não podem faltar e entremeadas. Toda aquela comida rápida que se faz no campo, e muito bem”.

O último dia foi marcado pelo convívio e pela homilia do padre Nuno Folgado, que presidiu à principal celebração da Senhora de Mércoles. Em uma tarde quente de primavera, o grupo Cavaquinhos de Penha Garcia levou a música tradicional portuguesa para animar a festividade, que terminou com o lançamento de fogos de artifício em despedida à Senhora de Mércoles.

Isabella Cavalcanti, jornalista do CB Notícias.

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