As obras vêm em bom tempo para quem convive com o mercado há 60 anos. O produtor de frutas de Alcongosta, João Trindade, reconhece que os grandes mercados atrapalharam o comércio tradicional e está à espera das obras “para vir mais gente à praça”. Em resposta ao desafio, o projeto de reabilitação do Mercado de Castelo Branco prevê a criação de uma residência de estudantes e um palco dentro do mercado, além da abertura de um acesso ao jardim e ao parque infantil atrás da Câmara.
Ao invés de grandes alterações na estrutura do edifício, a reabilitação do Mercado Municipal priorizará a reorganização das zonas de exposição dos produtos, além de modelos de gestão e de comunicação eficientes, revelou João Carapau, diretor da Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores (SIMAB), durante o lançamento do projeto no sábado, 25 de outubro.
“Essa mesma discussão é feita em toda a Europa, não é um problema apenas de Castelo Branco. Os mercados tradicionais perderam clientes ao longo das décadas e estão se reinventando”, referiu o diretor da empresa responsável pelo projeto de reabilitação do Mercado Municipal.
A renovação desta praça de comércio deve acontecer com atenção às pessoas que o usufruem, explicou João Carapau. O elemento que cumpre de forma mais literal a atração do público é a Residência do Mercado. Descrito pelo próprio presidente da Câmara como um aspeto “importante e precursor” do projeto, o alojamento temporário servirá a estudantes deslocados, no piso superior, com 18 quartos duplos, receção e zona de convivência, convertendo as estruturas para garantir sustentabilidade ambiental e social.
Espera-se “uma onda de juventude” para dar movimento e criar sinergias entre os produtores locais e o público consumidor menos habituado a adentrar aquele edifício, os jovens, explicou João Carapau. Ao tornarem-se clientes, os cerca de 40 estudantes, que vão habitar o piso 1 acima do comércio, podem dar sentido ao projeto.
“Outro cariz inovador do projeto é a transformação do fundo do mercado com a instalação de um palco” no piso térreo, afirmou o diretor da SIMAB. A intenção é reunir pessoas no mercado para concertos e outras atividades culturais no Palco do Mercado, descreveu.
“O pessoal novo está habituado ao supermercado”, reconheceu João Trindade. Se a proposta da SIMAB e da autarquia funcionar, o comerciante veterano garante ao novo público do Mercado Municipal que “vão ser melhor atendidos” e vão ter a oferta de “produtos 90% vindos dos quintais, com menos pesticidas e fertilizantes, criadas com o que a terra dá e que a natureza produz”.
Este é o diferencial destacado na criação da marca do Mercado de Castelo Branco. A comunicação terá o foco “nas pessoas que cá estão e que cá virão”, explicou Vasco Ferraz, responsável pelo projeto de branding. Criado a partir da marca do Município, que já é reconhecida no território, o logótipo do Mercado de Castelo Branco estampará sacolas, aventais e camisetas, além de campanhas de divulgação. “O Mercado tem que ir para fora”, concluiu.
O projeto para alavancar o Mercado de Castelo Branco baseou-se em um estudo que identificou como pontos negativos um modelo de “gestão pouco profissional”, assim como a falta de estacionamento, o horário de venda reduzido, o desconforto térmico, a limpeza deficiente, assim como a separação de resíduos e ausência de caixas automáticos Multibanco. “Se não houver gestão, a obra não resolverá os problemas”, destacou João Carapau.
Entre os aspetos positivos, estão o custo reduzido com as rendas acessíveis, há também procura de compradores e a fidelização dos clientes. “Os clientes são diferentes aos sábado”, atraídos pelos comerciantes de produtos frescos que fazem do Mercado de Castelo Branco “um dos poucos que possuem dois dias de atividade, no sábado e na quinta-feira”, destacou o presidente da autarquia albicastrense.
Através deste projeto, o município quer que “o movimento de compradores não se limite a estes dois dias, mas a todos os dias do ano”, disse Leopoldo Rodrigues. Esta proposta de reabilitação do Mercado foi elaborada a partir de um conjunto de ideias, que foi aberto às sugestões dos comerciantes e cidadãos albicastrenses.
“A proposta é trazer inovação associada aos produtos tradicionais”, através do investimento na Escola de Chefs e de ações em conjunto com o Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar (CAATA) e o InovCluster, a autarquia tem desenvolvido uma estratégia ao longo do tempo de valorização dos produtos do território albicastrense, que “vê-se ao longo do tempo, demora e não se faz com um ação”, contou o líder do executivo.
O novo Mercado de Castelo Branco
No piso térreo, as transformações serão visíveis com a retirada dos estandes do corredor central. A abertura destes espaços servirá para abrigar as instalações temporárias dos comerciantes livres, nos dias habituais. Nos restantes dias, as lojas fixas, nas laterais dos corredores, poderão posicionar mesas e cadeiras para acomodar os clientes.
Toda a venda alimentar de produtos frescos estará concentrada no piso térreo, junto também a restauração e aos produtos não alimentares num pólo comercial de comércios permanentes e temporários.
O comércio retalhista envolvente será convidado para preencher os espaços vagos e atrair outros públicos para dentro do Mercado, criando uma oferta complementar de produtos.
Além das entradas laterais na Avenida 1° de Maio, haverá uma abertura de ligação entre o Mercado e o jardim aos fundos do edifício da Câmara. A intervenção proporcionará uma comunicação do mercado com o espaço externo, a fruição da área verde e uma ligação direta ao parque de lazer infantil e do estacionamento.
Há a possibilidade de melhorias para abrigar uma zona de esplanada externa e de estada dedicada aos take-aways, permitindo o vai e vem das entregas por aplicativo da restauração.
O piso subterráneo, onde hoje fica a praça dos feirantes aos sábados e quintas-feiras, acolherá os produtos não alimentares, a restauração e a zona técnica de gestão do novo Mercado Municipal.
