Reabilitação da zona histórica começa a sair do papel

A Operação da Reabilitação Urbana (ORU) da zona histórica da cidade de Castelo Branco foi apresentada na última quinta-feira, 20 de junho, durante um evento público realizado próximo à muralha da cidade, em um dos primeiros quarteirões a receber intervenções diretas com a reabilitação do edifício que albergará futuramente a Escola de Chefs.

Os integrantes da equipa multidisciplinar, que está a realizar o estudo da zona histórica de Castelo Branco, demonstraram o ponto de situação do ORU. Uma das primeiras integrantes do grupo a iniciar os estudos de intervenção na zona histórica, foi a arquiteta Ana Queiroz do Vale, especialista em reabilitação urbana e planeamento do território.

Segundo ela, o momento atual é de “pôr a mão na massa”. O trabalho não começou “nem de longe, nem de perto hoje”, assegura Ana do Vale. No ano passado, foi possível chegar a uma agenda de execução concreta a partir de um conjunto de estudos, programas, planos e políticas desenvolvidos.

A jornada de preparação para a reabilitação do entorno do castelo teve por base uma metodologia de quarteirão. A arquiteta conta que a zona histórica foi dividida “em 37 quarteirões em que, depois de estudos de caracterização de cada uma destas áreas, podemos chegar àqueles que são prioritários.”

Atualmente, estão a ser trabalhados dois quarteirões elegidos como prioritários, o 1 e o 37. O arquiteto Mário Benjamin está a desenvolver a cerca de três meses um levantamento cadastral e arquitetónico do quarteirão 37, “de porta a porta”, uma “análise epidérmica, a nível de fachadas e logradouros de espaços públicos”, a partir da qual pode-se “calcular o conjunto de intervenções, balizar e até estimar o custo daquilo que pode ser feito”, detalhou o arquiteto.

Enquanto o quarteirão 37 localiza-se perto da muralha e do Museu do Cargaleiro, o quarteirão 01 está no topo da colina e é o da alcáçova. Este “tem características especiais para a reabilitação e regeneração do edificado, até com novos usos como fator de dinamização de toda essa área”, revelou Ana do Vale.

Os projetos “âncoras”, de principal intervenção do município, centram-se no quarteirão 01. Mário Benjamin exibiu os projetos arquitetónicos de conservação da Igreja de Santa Maria do Castelo e de conjugação da escola Conde Ferreira para incluir o Centro de Interpretação dos Templários Mestre Pedro Álvares Alvito.

“São três projetos âncora que se pretendem ser catalisadores e ponto de partida para uma descoberta do centro histórico a par de outros edifícios também”, explicou o arquiteto.

Outro projeto âncora que está praticamente concluído, segundo Mário Benjamin, é a antiga sede dos escoteiros que está devoluta há algum tempo e será convertida no Centro de Acolhimento do Peregrino. O espaço pertence à Paróquia de Castelo Branco e possui uma valência de recepção, espaço de apoio e balneários.

Há outros projetos que se intenciona desenvolver na zona histórica, como a Escola de Chefs e o Tribunal Central Administrativo, avançou Leopoldo Rodrigues, com o intuito de trazer pessoas para o centro histórico.

Para Mário Benjamin, “o trabalho fundamental que a equipa está a preparar é deixar as bases para cimentar um projeto que é global e tem intencionalidade de olhar para os quarteirões e tipologias de uma forma conjunta e dentro desta análise, que leva tempo e tem profundidade, ter esse olhar perspetivo e essa vontade de poder acrescentar vida e trazer os atores para a discussão e fazer deste processo construtivo.”

A importância da participação cívica neste processo de reabilitação da zona histórica foi reforçada tanto por Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara de Castelo Branco, quanto pela arquiteta Ana Queiroz do Vale.

Através do Gabinete ARU (Áreas de Reabilitação Urbana), pretende-se deixar a porta aberta a “todos aqueles que vivem ou querem viver no centro histórico, mesmo não sendo proprietários, ou que têm suas empresas” para dar apoio e encontrar as melhores soluções a fim de atrair investimentos, “quer a nível físico, mas sobretudo ao nível das atividades, dos usos e do que acontece também no espaço público”, reiterou Ana do Vale.

O objetivo é de, até ao final do ano, definir em concreto os programas de incentivo e os processos de licenciamento urbanístico e, no final de 2025, “elaborar uma agenda com novas prioridades, porque este é um processo contínuo”, avançou a arquiteta.

Leopoldo Rodrigues abriu a sessão de apresentação a declarar o ORU como o “maior desafio de Castelo Branco no presente e no futuro”. Ainda que os trabalhos de reabilitação da zona histórica tenham se iniciado logo em seguida à tomada de posse em 2021, como afirmou o autarca, a previsão é de que este processo “não se completará nem em um, nem em dois mandatos autárquicos”, disse o presidente da Câmara.

O desafio envolve “reabilitar uma zona extensa, que carece de intervenção física e também social, que comporta encargos financeiros de enorme dimensão e que, ao mesmo tempo, comporta desafios ao nível da preservação do património, da valorização e do colocar esse mesmo património ao serviço das pessoas e ao serviço do desenvolvimento”, descreveu Leopoldo Rodrigues.

A garantia de “termos um caminho definido e sabermos exatamente onde estamos e para onde queremos ir” serve de consolo ao autarca, que assumiu durante o certame ter ficado “em pânico” a primeira vez que falou com a arquiteta Ana Queiroz do Vale. “A senhora arquiteta fez o favor de me pôr os pés no chão”, confessou Leopoldo Rodrigues.

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