Portugal Cheese Festival celebra o queijo de Alcains

De 2023 para 2024, a feira de queijos passou por um rebranding e expandiu parceiros para “dar mais alcance ao queijo”, avança Christelle Domingos, diretora da InovCluster. Nos dias 5, 6 e 7 de maio, os visitantes puderam conhecer queijos da Beira Baixa e não só, mas também da Serra da Estrela e do Rabaçal a nível nacional e outros de Espanha e Itália.

O Portugal Cheese Festival é uma “forte aposta do Município de Castelo Branco e da Junta de Freguesia de Alcains” no turismo gastronómico e realiza-se em favor da valorização dos queijos como “marca do território e produto da nossa terra”, reforça Leopoldo Rodrigues na cerimónia de abertura.

Em conjunto com a Associação do Cluster Agro-Industrial do Centro (InovCluster) e a Associação Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar (CATAA), as entidades dinamizaram o programa com showcooking, conferências, concurso de queijo, concertos e animação itinerante.

HMB, Moonspell e Quim Barreiros animaram as noites do fim de semana de festival, trazendo mais visitantes para a vila, promovendo o turismo e posicionando “Alcains no mapa”, disse o presidente da Câmara de Castelo Branco.

Manuela González, produtora de queijo de Entrimo, município raiano da Espanha na província de Ourense da Galiza, Espanha, trouxe seus produtos pela primeira vez a Portugal após uma viagem de 400 quilómetros. Na banca estavam expostos “queijos com urtigas, único que se faz na Espanha, queijos com noz pecan, queijos tetillas, que são os mais originais da Galiza”, apresenta a produtora.

De Lisboa, Fernando Navais veio com a família para visitar a mãe, Maria Salete, em Alcains e aproveitou a ocasião para provar os queijos e assistir aos concertos. Entre as variedades que provaram, Fernando elegeu o Queijo da Malpica, um queijo de ovelha curado DOP da Beira Baixa. Já Maria Salete prefere os queimosos da Ribeira de Alpreade, com mais de dois anos de cura. Já os filhos de Fernando, Beatriz e Bernardo, divertiram-se com os brinquedos insufláveis e pinturas faciais.

A tradição do Queijo de Alcains

Dentro da história da família de Maria Salete encontra-se a relação com o queijo de Alcains, conta-nos que o pai era produtor, “comprávamos queijo fresco e depois ponhamos sal, curávamos e vendíamos ao final”.

O Queijo da Beira Baixa é um produto originário da região com Denominação de Origem Protegida e inclui os Queijo de Castelo Branco, o Queijo Amarelo da Beira Baixa e o Picante da Beira Baixa. Estes queijos são produzidos a partir de leite crú de ovelha e de cabra, com especificidades como a utilização de coalho de origem vegetal, o cardo, e o processo de maturação, que leva de 45 a 120 dias.

“É no século XV que surge o Queijo de Alcains”, conta o professor de História, Ruben Martins, no painel de conferência sobre a história e a tradição do queijo na sexta-feira. Com a industrialização, o queijo torna-se um produto global, mas também causa efeitos prejudiciais, como a fuga de mão de obra com especialidade para os centros urbanos e a consequente diminuição de produtores, complementa o professor.

O Portugal Cheese Festival “celebra acima de tudo a história de Alcains”, afirma a diretora do InovCluster, Christelle Domingos. A tradição de Alcains ao nível da produção de queijo é levada em conta pela organização que busca a valorização do produto local.

João Pereira negocia os cerca de 50 queijos que consegue recolher entre os agricultores da região de Castelo Branco para vendê-los nas feiras e eventos. Este ano, levou para Alcains tudo o que tinha, “não é muita quantidade, o industrial é que vende a centenas, nós vendemos só o que há”.

O comerciante revela que há muitos anos que trabalha com queijos, “já vem do tempo dos meus pais, dos meus avós e agora dei seguimento”. Os pais faleceram e desde então, João Pereira não possui mais ovelhas e depende da venda dos queijos. Este ano, diz que “nota-se um pouquinho a crise, as pessoas antes levavam dois, três queijos, agora só levam um”.

Produções em risco com a desvalorização do leite

O preço do queijo “subiu muito”, segundo João Pereira dos Miminhos dos Avós, “um queijo no ano passado custava, por exemplo, quatorze euros, hoje custa dezoito”. O aumento do queijo é consequência dos preços das rações usadas para alimentar os animais no verão que elevaram o valor do leite, João Pereira detalha que “o leite no ano passado andava a 60 cêntimos o litro e agora está a um euro e 30 cêntimos”. Tal facto faz com que os produtores escolham “vender o leite para grandes queijeiros, do que estar a fazer queijo”.

Gil Vicente alerta para o risco que a produção de queijos DOP enfrenta devido a diminuição da oferta de leite na região. O membro do Departamento Técnico-Administrativo da Ovibeira diz que “a maior parte dos produtores de leite estão a desistir e, para continuar com as ovelhas, fazem cruzamentos com raças de carne e vendem os borregos”. A causa, segundo Gil Vicente, é a desvalorização do leite, que não recompensa a produção, “o preço de venda não acompanhou o aumento do custo da produção do leite, por isso há cada vez menos leite a ser produzido na região da Beira Baixa”.

A Associação de Produtores Agropecuários defende os interesses de um setor com cerca de 140 mil animais ovinos e caprinos, deste total as duas raças autóctones, que têm origem na Beira Baixa, possuem efetivos de quatro mil e 400 ovelhas Merino da Beira Baixa e duas mil e 200 cabras Charnequeira. “Antigamente, estas raças eram ordenhadas para fazer os queijos de Castelo Branco e Alcains. Hoje em dia já não há quase ninguém a fazer queijos com este leite”, revela Gil Vicente.

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