Ovibeira está a tosquiar 60 mil ovelhas com técnicos uruguaios

A campanha de tosquia da Ovibeira abrange cada vez mais produtores de ovelhas. Desde que iniciou em 2022, a associação expandiu de 150 explorações para 255 este ano. A associação contrata tosquiadores uruguaios para realizar toda a campanha, que começa em abril, no Alentejo, e termina no próximo mês, com a expectativa de recolher cerca de 120 mil quilos de lã, que vão para o armazém de lãs da associação.

Os profissionais vem do Uruguai todos os anos para tosquiar os rebanhos. No primeiro ano, cerca de 30 mil animais foram tosquiados, já nesta terceira campanha estão previstos 60 mil ovinos. “Há uma tendência crescente de explorações a tosquiar e uma fidelização dos produtores”, segundo Pedro Cardoso, médico veterinário da Ovibeira, devido ao trabalho dos uruguaios que “apanham os animais, tosquiam e ensacam a lã”.

A contratação dos estrangeiros é motivada pela aptidão dos técnicos em realizar o serviço completo, explica Pedro Cardoso, “a equipa tosquia durante seis meses na Europa e seis meses na América do Sul, têm formação e fazem o trabalho completo”.

A produtora biológica de borregos, Maria Mourão, recorre ao serviço de tosquia há três anos e considera “muito vantajoso, porque não temos que nos preocupar com nada, eles fazem tudo, apanham as ovelhas, ensacam, coisa que nós fazíamos ao início”.

Depois de tosquiados, os velos são ensacados e pesados e ao fim da campanha são levados ao armazém das lãs, que foi em tempos um dos armazéns de lã mais importante do país.

A iniciativa de organizar campanhas anuais de tosquia surgiu após a Ovibeira ficar afastada do sector de lãs por quase dez anos. João Serrano, engenheiro técnico da associação, relata que houve o crescimento de um monopólio de tosquiadores na região que se mostrou prejudicial aos produtores e ao mercado.

“No regresso da recepção das lãs em 2021, nós vimos o mau estado em que chegaram até à concentração das lãs, eram defeituosas”, além disso, o engenheiro chegou a ouvir relatos de produtores sobre a falta de “tosquiadores a tempo e a horas”, com formação e que fornecessem facturas do serviço.

“A lã é um prejuízo”

“Neste momento, a lã é um prejuízo para a exploração”, conta Pedro Cardoso, médico veterinário da Ovibeira. A venda da lã não é suficiente para pagar a tosquia. As propostas de compra da lã chegam a valores entre os 10 e os 25 céntimos, enquanto a associação cobra 1,65 euros dos associados pela tosquia de cada animal em explorações com mais de 50 efetivos.

Maria Mourão costumava vender a lã a intermediários, mas ficou cada vez mais difícil vender: “Houve um ano que ninguém vendeu a lã e as pessoas ficaram com ela em casa a desvalorizar. No ano a seguir, a Ovibeira levou esta lã e levou a do ano corrente, foi quando começamos a tosquiar com eles”.

A exploração tem cerca de 200 ovinos da raça autóctone Merino da Beira Baixa, em Alcains, destinados à venda de borregos biológicos. Maria Mourão não considera a lã um produto, mas uma moeda de troca pelo serviço inevitável. Com as temperaturas a subir na primavera, os produtores não têm outra escolha a não ser assumir os custos da tosquia das ovelhas e dos carneiros, pelo bem-estar e pela saúde do animal.

Ciente do problema que a lã apresenta aos produtores, a associação tenta “valorizar a lã, fazer com que ela deixe de ser um subproduto”, afirma Pedro Cardoso. Nesse sentido, foi realizado o contraste lanar da exploração de Merinos da Beira Baixa de Maria Mourão. Durante a tosquia em Alcains, João Serrano atuou como classificador de lãs, analisando e registando as características dos fios de cada animal.

Um dos poucos classificadores de lãs em Portugal, João Serrano, conta que há quatro classificações de lã, que vão de extra fino a primo. No rebanho de Merinos da Beira Baixa tosquiado na manhã de sexta-feira, 17 de maio, o engenheiro encontrou poucos velos de qualidade extra e predominância de qualidade corrente. As lãs extras no passado “andavam à ordem dos três euros por quilo”, revela João Serrano, enquanto nos dias atuais chegam a dois euros, no máximo.

O contraste lanar permite identificar os animais que produzem lã extra, “para que possamos garantir que os filhos dessas ovelhas e desses carneiros se mantenham”, conta o médico veterinário e secretário técnico do livro genealógico das Raças Autóctones da Beira Baixa, que inclui a ovelha Merino da Beira Baixa e a cabra Charnequeira.

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