O esquerdismo, a democracia e o radicalismo!

O exercício do poder político pelo povo através de representantes eleitos, a democracia representativa, apesar de muitos a considerarem um dado adquirido quando nos preparamos para comemorar os 50 anos do 25 de abril, tem-se mostrado uma realidade sociologicamente frágil, o que resulta evidente se olharmos para os regimes totalitários que pululam pelo mundo, de esquerda e de direita.

É a democracia, depois, interpretada de forma peculiar pela esquerda radical.

O radicalismo, todos o vamos sabemos, sustenta-se na inflexibilidade, no extremismo das ideias e das atitudes, nas quais alicerçam pretensões de reforma profunda na organização social, que exigem ver de imediato concretizadas.

No essencial trata-se do reviver de uma expressão popular no pós 25 de abril, então já propalada por vários organizações sociais e políticas, a do “queremos tudo e já”.

Politicamente inflexíveis, os radicais, que nunca assumem a culpa por nada, mesmo quando ocasionalmente fazem parte das soluções de governo, distinguem-se por defenderem constantemente reformas e ações disruptivas, desestabilizadoras da ordem constitucional e social, alimentando-se do antagonismo à moderação e à reforma progressiva da sociedade através das vias constitucionais.

Os radicais, apesar de normalmente não confessarem o ressentimento que nutrem contra a legalidade democrática, evidenciam-no no exacerbar das lutas que promovem, que anseiam disruptivas da ordem social e a causarem os maiores sacrifícios possíveis ao povo, que, curiosamente, continuam a constantemente a afirmar pretender defender.

Não se sabendo ainda o resultado oficial das últimas eleições, quem irá ter a responsabilidade de liderar o país, quais vão ser as suas medidas mais emblemáticas, as respetivas prioridades e já o PCP anunciou publicamente a apresentação de uma moção de rejeição ao programa de governo. Para o radicais da esquerda, quem eles entenderem, terá de ser bombeiro voluntário, quer queira, quer não!

Já o Bloco, igualmente contrariado com o resultado eleitoral, decidiu pedir reuniões aos partidos da esquerda para tentarem apresentar “uma alternativa para governar Portugal”.

Conhecendo-se alguns dos objetivos programáticos defendidos pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda: A saída da União Europeia e da NATO, a nacionalização dos bancos, da TAP e das principais empresas, o não quererem pagar aos credores externos e por aí adiante, se lhe acrescentarmos o desrespeito pelos atos eleitorais realizados democraticamente, não há outra forma de os qualificar que não seja como radicais.

Radicais que, pelo menos aparentemente e ao que se ouve na generalidade dos comentadores, ninguém estranhou ter tido (nem voltar a ter) numa solução de governação.

Ora, se numa democracia pluralista, ocidental e liberal não há linhas vermelhas com o PCP e BE no referente aos governos do PS, só o mais elementar tacticismo político é que pode querer existiam com o Chega, quando, fruto da alternância democrática e do voto popular, passou a ser responsabilidade do PSD governar.

Esta cerca sanitária que quiseram impor ao PSD relativamente ao Chega, também ele – como o Bloco e o PCP -, indubitavelmente um partido radical, trata-se de uma prosa inventada pela esquerda e pelo PS para se tentarem perpetuar no poder e que só a eles interessa.

Serviu para António Costa obter uma maioria absoluta, mas, quem se considere democrata, não pode pretender que o PSD esteja numa situação de inferioridade estratégica em relação ao PS, sobretudo depois deste ter governado seis anos com o apoio da esquerda radical, com partidos que continuam a defender a apropriação coletiva dos meios de produção e a rutura com todos os princípios económicos do mundo ocidental.

Luís Montenegro prometeu que o PSD não se aliaria ao Chega para governar e não pode voltar atrás nesta promessa que fez ao povo português.

Mas, se a ala moderada do PS respeitar a democracia e o voto popular, depois da campanha de medo e de desinformação que fez contra os perigos de uma solução de governo da Aliança Democrática com o apoio do Chega, fica-lhe o dever moral de viabilizar a constituição e também os orçamentos de um governo do PSD, seguramente mais moderado do que o que existiu com o apoio do Bloco e o PCP.

Se não o fizer, para além de evidenciar que é o radicalismo, mais do que o respeito pelo voto popular, a conduzir-lhe a ação política, restar-nos-á irmos a eleições, onde será novamente o povo a ter a palavra.

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