No dia seguinte à apresentação das Operações de Reabilitação Urbana (ORU) pela autarquia de Castelo Branco, 21 de junho, os vereadores e o deputado eleitos do SEMPRE – Movimento Independente reuniram-se em conferência de imprensa para afirmar que o projeto em execução não corresponde às promessas feitas pelo atual presidente da Câmara durante a campanha eleitoral de 2021.
“Ontem, na apresentação do ORU, o presidente da Câmara admitiu o fracasso.” Segundo Luís Correia, a proposta de reabilitação urbana que se deu a conhecer no dia 20 de junho não corresponde a nenhum dos objetivos propostos por Leopoldo Rodrigues antes de ser eleito.
O “novo centro histórico” prometido aos albicastrenses foi uma “utopia” na percepção do SEMPRE. O ex-presidente da Câmara e atual vereador, Luis Correia, afirmou que “o Partido Socialista embarcou numa utopia sem que tivesse consciência da realidade daquilo que é o nosso concelho e sem ter consciência daquilo que é a concretização dos objetivos”.
A palavra utopia foi utilizada pelo próprio presidente da Câmara na apresentação do ORU, conforme relembrou Luís Correia. Leopoldo Rodrigues declarou na ocasião: “É quase utópico pensarmos que teremos todos os fogos da zona histórica preenchidos por casas de habitação, pelas suas características, pela sua acessibilidade, pelo espaço que existe para estacionamento. É verdadeiramente uma utopia”.
A incompatibilidade da proposta que está a entrar em fase de execução em relação ao que foi prometido aos eleitores albicastrenses reside principalmente na dimensão do que se imaginava que seria a reabilitação urbana, apontou o SEMPRE.
Entre os objetivos propostos na eleição autárquica de 2021, constavam a “reabilitação de 250 novas habitações”, “250 novas famílias e jovens” a residir na zona histórica, “criação de 500 novos postos de trabalho bem remunerados e com futuro”, “atração e constituição de 50 novas empresas”, “apoio a cem empreendedores jovens”, além de “mais de cem camas em hotelaria”, “dinamização e apoio ao comércio e restauração no centro” e “mais de 20 mil turistas por ano em Castelo Branco”.
As promessas utilizadas como alavanca durante a campanha eleitoral, foram assumidas como “falhanço” pelo presidente na última quinta-feira, segundo Jorge Pio. Do total de 250 habitações que seriam reabilitadas, “há apenas três casas” que estão a ser concretizadas, aponta o vereador do SEMPRE.
“Não ouvimos falar sobre as 250 famílias, tampouco sobre os novos postos de trabalho, a hotelaria está a zero”, acrescentou Luís Correia. “Parece que estamos agora em campanha. Aquilo que mais ouvimos dizer não é ‘fizemos isto ou fizemos aquilo’, é ‘vamos fazer’.”
O ex-autarca demonstrou-se incrédulo com o facto de, próximo ao final do terceiro ano de mandato, o presidente da Câmara estar a anunciar a finalização e o lançamento de projetos. Segundo Luis Correia, não há “nada com condições estruturantes para terminar até ao final do mandato”.
A Escola de Chefs, anunciada como projeto âncora em 2021, “ainda não foi adjudicado, ainda não passou pelo Tribunal de Contas, aquilo que todos nós sabemos que é um período fatídico de um projeto”, exclamou Luis Correia.
A conclusão do vereador de oposição é de que “um projeto importantíssimo não vai ser concretizado até o final do ano, aliás muito provavelmente nem 10 ou 20% daquela obra da obra”.
Aquilo que se demonstrou na apresentação das operações de reabilitação urbana “é uma fase muito embrionária, muito inicial de alguém que pensa em intervir numa zona histórica”, reforçou Ana Ferreira, vereadora do SEMPRE, arquiteta e doutora em Engenharia Civil.
“A primeira coisa que nós temos que perceber é o que lá existe e com o que nós estamos a lidar e, efetivamente ontem, o que nós vimos foi um conjunto de fichas de levantamento, algumas estratégias que são genéricas”, reiterou Ana Ferreira.
Chamou-se a atenção ao facto de que alguns dos profissionais que apresentaram projetos na quinta-feira “foram contratados em abril de 2024, portanto há menos de três meses, ou menos que isso”, destacou Jorge Pio.
“É o mundo fantástico de Leopoldo Rodrigues, que finalmente levou um banho de realidade”, entoou Jorge Pio. A mudança de discurso do presidente da autarquia marcou-se pelo próprio a confessar ter ficado “em pânico” a primeira vez que falou com a arquiteta Ana Queiroz do Vale. Leopoldo Rodrigues referiu na cerimónia pública que “a senhora arquiteta fez o favor de me pôr os pés no chão”.
Em tom notavelmente político, Jorge Pio sublinhou “a falta de compromisso” do autarca que “não cumpre com as promessas”, motivo suficiente para a perda de confiança dos albicastrenses, segundo o mesmo. Os três anos já decorridos do mandato representam para o vereador de oposição “três anos perdidos que podem trazer custos muito significativos para nós todos”.
A reabilitação da zona do Castelo tem sido cobrada tanto pelos deputados à Assembleia Municipal de Castelo Branco. Armando Ramalho demonstrou preocupação com “a deriva populista” do presidente da Câmara Municipal face às cobranças, devido à ausência de concretização das promessas.
“Nossos piores receios vieram a se concretizar e, de facto, neste momento não há obra efectivamente feita”, concluiu o deputado Armando Ramalho.