Durante a inauguração das obras de requalificação do Politécnico de Castelo Branco (IPCB), esta quinta-feira, 14 de novembro, o primeiro-ministro de Portugal afirmou que o sistema de ensino português está a formar profissionais para o estrangeiro, ao contrário da necessidade do país em reter “os jovens portugueses em Portugal”. Um dos caminhos é apostar “numa relação direta com as empresas circundantes” e as Instituições de Ensino Superior (IES), estratégia reconhecida por Luís Montenegro no IPCB.
À fuga de profissionais qualificados, o chefe do Governo acrescentou o cenário de baixa densidade populacional no interior do país para reforçar o papel das IES como “espaços que dinamizam as cidades e que permitem a muita gente se fixar, investir, trabalhar, constituir família e aproveitar os investimentos públicos que se fizeram ao longo de muitos anos aqui [em Castelo Branco]”.
Diversificar a oferta formativa nas IES e “corresponder às necessidades do mercado de trabalho” é um caminho para evitar a procura de oportunidade fora do país, no ponto de vista de Luís Montenegro e do Governo, conforme sublinhou. “Nós não temos que andar a multiplicar sempre as mesmas ofertas formativas em todas as instituições de ensino superior”, defendeu em contraposição ao estudo de “coisas que depois não têm oferta no mercado de trabalho”.
Montenegro elogiou o trabalho desenvolvido no politécnico albicastrense, reconhecendo nas instituições do interior “os motores de fixação de pessoas e de desenvolvimento económico e social, que se abrem para atrair, desenvolver e potenciar o talento para que possa servir aos interesses e ao futuro do país”.
A importância das IES nos territórios de baixa densidade passa também por serem portas de entrada do “talento que nós precisamos de atrair do estrangeiro para Portugal”, disse Luís Montenegro. Mais do que manter os jovens portugueses, “precisamos de atrair de outras geografias para vir ajudar a erguer este país”. A chave, para o ministro, são as escolas básicas e superiores, as únicas ferramentas que permitem o “elevador social”.
Ao mesmo tempo em que negou falar de estradas, Montenegro referiu que estas podem haver “com ou sem portagens”, mas, assim como as escolas e os equipamentos desportivos e culturais, “só faz sentido se houver pessoas”. E, para fixar as pessoas, “tem que haver criação de riqueza” através da formação de uma “massa crítica” e exigente com o governo autárquico e parlamentar.
O chefe do Governo reconheceu a necessidade de “uma boa política de habitação”, assim como “uma boa política” de educação, de mobilidade e de saúde para concretizar a coesão territorial, frequente no discurso político. Nesse sentido, as autarquias e as comunidades locais são “parceiros cada vez mais importantes”, pontuou.
No ensejo da inauguração das obras na Escola Superior Agrária (ESACB) e na Escola Superior de Educação (ESECB) do IPCB, financiadas pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) em um milhão de euros a partir da Rede Politécnica A23, o primeiro-ministro reforçou a valorização destes setores na sociedade.
“É preciso estimular os jovens e valorizar o ensino” no setor primário – agricultura, pecuária e floresta -, que “eu considero, e este governo considera, estratégico e estruturante para o país”, delineou Luís Montenegro. O investimento na requalificação de sala de aula, refeitório e laboratório da ESACB simboliza a resposta a um setor que está “cada vez mais a necessitar de bons profissionais, de inovação, de aptidão para a utilização das novas tecnologias e, já agora, de preocupação com a preservação do nosso ambiente”, pois com a formação adequada, os agricultores portugueses podem contribuir ainda mais neste âmbito.
Quanto à requalificação da ESECB, o primeiro-ministro reforçou que o Governo está “absolutamente empenhado na valorização da carreira docente, na atratividade da carreira docente e na formação de professores”. A necessidade destes profissionais deve-se à aposentação de “milhares de professores nos próximos anos”.
Luís Montenegro também reconheceu a perda de “muitos docentes para outras atividades profissionais” nos últimos anos, a qual exige ao Governo, em conjunto com parceiros, “atrair, reter e formar”.
Em nome do Governo, o primeiro-ministro afirmou a António Fernandes e “a toda esta comunidade, que estão a ir no caminho certo, porque estão a corresponder com as áreas formativas que são as necessidades do país”.
O presidente do IPCB defendeu o investimento público para a região, sublinhando que “as instituições estão preparadas e têm a obrigação de acompanhar o Governo no desígnio do desenvolvimento destes territórios”. Entretanto, o fato de ser caracterizado “por baixa densidade populacional, não pode ser usado como justificação para a ausência de investimento público”.
A presença do primeiro-ministro, após dez anos desde a última visita de tal representante do Governo ao politécnico, como enfatizou António Fernandes, foi “um sinal da importância atribuída ao IPCB no desenvolvimento deste território, que desejamos mais justo, mais próspero e mais sustentável”.
Dentro do auditório renovado na ESECB, Luís Montenegro foi presenteado com uma fruteira concebida por uma estudante da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) na licenciatura de Design de Equipamentos Interiores. Constituída por apenas dois tipos de peças – sem parafusos e sem cola -, a fruteira é produzida nas oficinas, através das máquinas de ciência da Escola.
A sessão final foi precedida de um momento musical com o reconhecido guitarrista português Custódio Castelo, estiveram presentes autarcas, presidentes de outros institutos politécnicos, deputados, além da presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional (CCDR-Centro), do presidente da Associação Académica, da secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva, que conjuntamente com toda a equipa do Ministério da Educação, da Ciência e da Inovação.