Marcha do Castelo a preservar a memória e a identidade albicastrense

As marchas populares abrilhantaram a noite do bairro do Castelo pelo terceiro ano consecutivo, reunindo diferentes gerações de marchantes dedicados a manter viva as memórias e a identidade do arraial na Praça Académica, em frente ao Museu do Cargaleiro, no passado sábado, dia 15 de junho.

Sob o comando da madrinha da Marcha do Castelo, Margarida Martins – a “Guida” -, mais de 30 marchantes saíram do Centro Artístico Albicastrense (CAA) para desfilar pelas ruas do centro histórico trajados com cores vibrantes e a cantar a na companhia da Fanfarra do Vaatão.

A vontade e a dedicação daqueles que estiveram desde o início do ano a preparar a festa do bairro do Castelo foi exaltada por todos os presentes. “A dona Margarida é uma visionária e artista, pois foi ela que confeccionou todos os trajes, que os desenhou, que os concebeu e escolheu todos os materiais e ensaiou toda a equipa”, destacou Maria Lopes, vogal da Junta de Freguesia de Castelo Branco e diretora artística do Vaatão Teatro.

Os 35 marchantes de todas as idades incluíram entre eles a poeta e artista Antónia Dias de Carvalho, de 85 anos, que compôs a marcha cantada à capella pelas centenas de pessoas que assistiram ao arraial. “Esta é minha, fui eu que escrevi para Castelo Branco e espero que um dia mais tarde seja cantada, pois foi com muito amor que a escrevi”, declarou a artista.

“Nunca marchei na minha vida”, confessou Antónia Carvalho. A estreante nas marchas,  este ano, pôs-se à rua a cantar na Marcha do Castelo. “É uma honra”, afirma a personalidade albicastrense ao carregar nos braços uma miniatura do Castelo feita especialmente para ela: “Ofereceram-me esta casinha hoje em nome da Marcha, fizeram-na para mim”.

Este é o terceiro ano das chamadas “novas marchas do Castelo”, entretanto é o segundo ano consecutivo de “grandiosidade”, afirmou Margarida Martins. A vontade que surgiu em conversas de café, “uma brincadeira”, segundo ela, vive em 2024 a consolidação da tradição com o apoio da Junta de Freguesia e da Câmara de Castelo Branco.

“As marchas já não saíam há mais de 50 anos, eu tinha pra aí oito anos, eu não me lembro”, conta a costureira Margarida Martins, que adora marchas e não resistiu ao convite de reviver a tradição. Para os próximos anos será sempre a crescer se depender da vontade de “Guida”, que afirma “este ano fizemos questão de pôr aqui a parte da restauração para ver se angariamos também alguma coisinha para começarmos mais cedo a preparar-nos para a festa”.

Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara de Castelo Branco, parabenizou as pessoas que “têm coragem de trazer as marchas de volta” e afirmou ser um privilégio para a cidade de Castelo Branco poder contar com estas pessoas: “Há um trabalho de muita resiliência e sacrifício por trás dos trajes e de toda a apresentação”. 

O autarca foi aplaudido pelo público ao expressar a vontade de “envolver mais associações e mais bairros” para o próximo ano.

Na ausência de José Pinho, presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco, Maria Lopes afirmou que a autarquia “não pôde deixar de apoiar uma vez mais as marchas do Castelo”.

Os alunos do jardim de infância da Escola Básica do Castelo, do Agrupamento Afonso de Paiva, iniciaram o bailarico a dançar o vira e outras danças populares, já a habituarem-se com os festejos e o cheiro das sardinhas na brasa e dos manjericos.

Resgate e preservação do Património Imaterial

Aqueles que se recordam das marchas realizadas há mais de 50 anos num dos bairros mais antigos de Castelo Branco, viram a identidade de outrora ser resgatada pela coragem e pela resiliência de Margarida Martins.

A costureira de profissão dedicou-se aos trajes e aos ensaios, mas também esteve à procura de antigos registos, de onde recolheu duas marchas originais que fazem parte do património imaterial albicastrense, a “Marcha da Cidade” e a “Marcha do Castelo”.

Margarida Martins resgatou a memória das marchas seculares do Castelo, recordando que em 1967 foi ganho o primeiro prémio. “As marchas são do povo para o povo, para recordar as memórias das marchas no Castelo”, enfatizou Leopoldo Rodrigues durante o fim da apresentação.

As canções populares foram registadas em partitura pela fanfarra do Vaatão. A diretora artística do Vaatão, Maria Lopes, destacou a importância da música em papel para “ficar guardada para o futuro”.

Fotos: Isabella Cavalcanti

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