Mal empregados 144,6 mil euros, estafados na “Vuelta”

Leu bem, pois foi isso mesmo que a Câmara Municipal de Castelo Branco e o seu Presidente, Leopoldo I, pagaram para a “Vuelta” (do lado de cá, volta à Espanha em bicicleta) ter passado em Castelo Branco.

(Nota do autor: “I” obviamente de “primeiro”, pois ainda não tivemos nenhum presidente da câmara com este nome, e, como está bem de ver, é evidente que o Senhor aspira a um estatuto parecido com o do Luís XIV – o tal de Rei Sol – que se divertia a estourar o dinheiro do tesouro francês em luxos e parvoíces deste tipo, ao mesmo tempo que o povo “passava as passas do Algarve”).

A pergunta que todos os albicastrenses fazem é, para quê gastar quase 150 mil euros com a volta à Espanha, se há tantas carências e problemas para resolver no concelho?

Pagamos da água mais cara do país, na fatura da eletricidade continua a constar a taxa municipal de direitos de passagem – que o executivo insiste em cobrar-nos -, não temos um sistema público de transportes digno desse nome, o teto do ringue de patinagem continua por recuperar há vários anos, há passeios cheios de buracos, mas, Leopoldo I, não quer saber. 

Para gastar os 150 mil, a ele (Leopoldo I) de certeza que chegou a perspetiva da televisão espanhola poder vir cá filmá-lo e ser visto dez ou onze segundos no “telediário”, que é como “nuestros hermanos” chamam ao telejornal.

O problema é que “a guita” dos impostos não é dos políticos.

Todos sabemos que é através dos impostos que o estado e as autarquias conseguem o dinheiro que dão em serviços à população. Saúde, segurança, proteção na doença e até coisas mais simples, mas nem por isso menos importantes, como é o fornecimento de água canalizada, esgotos, proteção ambiental, entre muitas outras.

É o dinheiro dos impostos que constrói as escolas, estradas, pontes e hospitais, mas é também ele a ser muitas vezes malbaratado em coisas sem importância, sobretudo quando só servem para alimentar os egos de alguns maus políticos, pois a sua obrigação é servir o povo que os elegeu gerindo bem a coisa pública, não é quererem engrandecer-se com disparates deste género.

Reparem que até as pessoas mais pobres pagam impostos, gente com pensões quase de miséria e até os beneficiários do rendimento mínimo, pois, sempre que vão comprar frango, pão ou leite, o marrano do IVA está lá sempre, a sacar-lhes parte do seu pobre rendimento.

É verdade que os autarcas também pagam impostos, mas fazem-no como qualquer outro cidadão, não sendo mais donos desse dinheiro do que qualquer um de nós.

Aliás, nunca é demais reafirmar que esse dinheiro pertence única e exclusivamente ao povo e é também ele que paga os ordenados à classe política para o gerir criteriosamente.

É por isso que não é difícil dizer-se que os dois contratos de patrocínio desportivo em que a Câmara de Castelo Branco se comprometeu a pagar quase 150 mil euros a uma empresa espanhola para passar cá a “Vuelta”, são um verdadeiro disparate, próprio dos governantes do século XVII (que foi quando nasceu o tal de Luís XIV), não de um gestor do século XXI. 

E se tiver dúvidas, responda lá por favor:  Você, a bem do nosso concelho, arranjava ou não uma forma muito melhor de gastar os tais 144,6 mil euros?

Álvaro Batista

2 comentários

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    Ja recuperava aqui umas das casitas que o municipio comprou no Castelo.

  2. Avatar

    Como sabemos, os dinheiros públicos são confiados a certos “agentes político-administrativos” que os administram em nome do Povo, segundo determinadas regras.

    E o escrutínio sobre a atividade do setor público contribui decisivamente para a atenuação da opacidade, para a transparência, e para uma boa administração através de uma adequada gestão do erário público.

    A reflexão sobre a ética, a exigência do escrutínio e da transparência deveria fazer-se ainda com uma maior acuidade, porquanto, a fraude e a corrupção são fenômenos que normalmente surgem associados ao gasto dos “dinheiros públicos”, devido às avultadas quantias envolvidas, como múltiplos casos a comunicação social tem retratado.

    Mas esse escrutínio, não deverá ser feito de forma leve, pouco refletida, e algo precipitada, como me parece que é esta a sua publicação.
    Diz na sua publicação “para a Vuelta passar em Castelo Branco”.

    Mas a “Vuelta” não “só” passa em Castelo Branco, a etapa termina em Castelo Branco, o que faz toda a diferença.

    Diz também “ter passado em Castelo Branco”.
    Mas o evento ainda não decorreu, irá decorrer, o evento que já passou foi a “Volta a Portugal”.

    Diz também “…que chegou a perspetiva da televisão espanhola poder vir cá filma-lo e ser visto dez ou onze segundos no telediário”
    Sabe que a “Vuelta” é transmitida pela “TVE” para 190 países?
    E por várias horas diárias?

    E como diz o “Turismo do Centro”
    “As expectativas são elevadas se considerarmos que esta prova envolve atualmente uma caravana de cerca de três mil pessoas, a que corresponde um gasto médio de 150 euros por dia e por pessoa na semana anterior a cada etapa, nos locais de origem de cada jornada da competição.”

    “Um dos objetivos de incluir Portugal no arranque da prova espanhola é servir de exemplo à parceria dos dois países na participação de grandes eventos mundiais”

    “O problema é que “a guita” dos impostos não é dos políticos, e há tantas carências e problemas para resolver no concelho”

    Concordo perfeitamente que há muitas carências e muitos problemas para resolver no Concelho, e este executivo autárquico pouco tem feito para os resolver, a inercia parece ser o seu apanágio, mas por em causa o maior evento, não me parece que seja justo, e havendo tantas “festas, feiras e romarias”, por onde poderia começar a questionar os gastos do erário público e os actos (ou a falta deles) deste Presidente de Câmara.

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