Leopoldo I, a barracada e “o preço das coisas”

“Verdade, verdadinha”, é ter sido literalmente impossível para qualquer albicastrense (1) ignorar a recente organização da feira dos sabores de perdição no centro da urbe, tantas foram as barracas lá montadas pela Câmara Municipal.

Um verdadeiro mar delas (aqui no interior), de inumeráveis tamanhos, cores e feitios, sinal de que os atuais poderes municipais continuam a apostar na icónica e insigne marca distintiva de: “Castelo Branco, cidade da barraca!

Outra interpretação não pode, aliás, ser dada a tão insigne e inusitada utilização do centro cívico.

Confesso-vos que, preocupado com o futuro da região, tenho pensado na situação – muito, podem ter a certeza -, e é por isso que ando cheio de dúvidas sobre se esse será mesmo o slogan apropriado para nos destacar, nacional e internacionalmente, como um insigne símbolo de modernismo e progresso.

Como não me consigo decidir – aliás como sucede com o atual executivo relativamente à resolução dos principais problemas do concelho e não tenho “guita” para andar para aí a fazer festas “a torto e a direito” – lembrei-me que se podia fazer um referendo para escolher a melhor frase para definir a nossa cidade e lançá-la definitivamente num futuro de desenvolvimento e prosperidade. Não concordam?

Na certeza que sim, vejam lá p.f. qual preferem:

  • “Castelo Branco ama a barraca!”
  • “Com o PS, a barraca é yes!” (tem um “bocadinho” de estrangeiro, mas até dá um toque de modernidade “à coisa”)
  • “Com Leopoldo, se não for barraca, tem de ser um toldo!”

É verdade que quase todas as cidades do interior têm um pavilhão de exposições ou de congressos – Portalegre tem um Parque de Feiras e Exposições, o Fundão e Viseu têm pavilhões multiusos e a Covilhã tem o Pavilhão da ANIL – mas é aí que Castelo Branco tem conseguido ser diferente, pois aqui aposta-se na barraca e podem ter a certeza que isso não é de somenos, havendo até quem já ande a pensar apresentar a candidatura da “barracada albicastrense” ao “património cultural imaterial” da UNESCO. 

Ora, se a distinção pretende abranger práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões tradicionalmente reconhecidos pelas comunidades como fazendo parte do respetivo património civilizacional, instrumentos, objetos, artefactos e espaços culturais a eles associados, é evidente que, por sermos no Mundo quem mais recorre à barraca, de certeza que o comité de sábios que costuma decidir estas coisas, não nos vai negar a distinção.

E, por favor, não comecem já a dizer que não, pois o recurso à barraca não foi inventado ontem ou na semana passada, remontando já ao longínquo reinado de Luís I – glorificado na história como “o sempre arreliado”  – tudo porque o partido que ele queria que o apoiasse, inteiro, para se perpetuar no trono, o enjeitou sem motivo válido, só por causa do Tribunal lhe ter encontrado umas nodoazitas no mandato, que, na opinião dele, teriam saído com facilidade se lavadas delicadamente, com sabão azul e branco e um bocadinho de lixívia. 

Talvez se ficasse lá a conhecer a mancha, mas que importância é que isso teria desde que ele conseguisse ganhar as eleições e voltar a reinar no burgo.

Problema maior foi, no meio da barracada, ter ficado “o preço das coisas”, a inusitada fortuna que Leopoldo I gastou com o Sabores de Perdição. Alegadamente para fazer a divulgação dos produtos de excelência da Beira Baixa, nada mais do que 744 635,79 € – setecentos quarenta e quatro mil euros e mais uns trocos, dados tirados do portal BASE, que, se estiverem errados, alguém há de seguramente corrigir -, a saber:

  1. Adjudicação de Eventos Sabores de Perdição, (…) à empresa ARRIBAS & LABIRINTOS, LDA pelo preço de 30 950,00€ (procedimento por lotes) (²);
  2. Adjudicação de Eventos Sabores de Perdição, (…) à empresa João Nunes da Fonseca pelo preço de 46 490,00€ (procedimento por lotes);
  3. Adjudicação de Eventos Sabores de Perdição, (…) à empresa Irmarfer SA pelo preço de 448 601,00€ (procedimento por lotes);
  4. Adjudicação de Tributos a realizar no evento Sabores de Perdição 2024 à empresa CARTOLA DE ARTISTAS UNIPESSOAL LDA pelo preço de 7 100,00€;
  5. Adjudicação de Produção e realização dos Concertos do evento Sabores de Perdição à empresa UN PARTY UNIPESSOAL LDA pelo preço de 168 000,00€.

Um bocado para o “carote”, a festa! Não lhe parece?

Podia-se ter gasto menos dinheiro na “Perdição” e utilizar o que sobrasse para suprir algumas das muitas necessidades do concelho. Não concorda?

Notas: (1) Saibam os leitores distantes, do Algarve, do Minho e de sítios similares – pois também os há a perder tempo com estas crónicas e outras banalidades similares – que, albicastrenses, são os que nasceram ou ainda conseguem tratar de vida em Castelo Branco.

(2) No portal BASE, não se consegue saber o valor dos vários lotes (ou então é o escrevinhador que não foi capaz, por causa dos seus limitados conhecimentos de informática).

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