A alma portuguesa numa Bienal Internacional de Artes e Ofícios no Luxemburgo

A construção de políticas públicas de sucesso dependem, em grande parte, da capacidade de diálogo e planeamento daqueles que governam. O diálogo, a capacidade de construir pontes e consensos e a sensibilidade para escolher as melhores equipas de apoio dos eleitos são fatores que contribuem para que os projetos políticos alcancem o maior impacto positivo possível junto das comunidades.

Entendo, até pela experiência que tive oportunidade de viver na primeira pessoa, que o nosso futuro coletivo, enquanto comunidade, depende de uma forte capacidade de liderança, planeamento e da respetiva execução de projetos materiais ou imateriais e, ainda, de um trabalho assertivo, em rede, valorizando as singularidades dos territórios uma vez que é isso que nos torna autênticos e pode ajudar-nos a dinamizar a nossa economia local.  

A valorização das tradições, dos hábitos, usos e costumes representam uma mais valia com um enorme potencial. O Município de Castelo Branco tem agora o melhor enquadramento de sempre para valorizar, por exemplo, as suas artes e ofícios, a criatividade, os artistas e criar valor. No contexto da recente integração da cidade de Castelo Branco na Rede Mundial de Cidades Criativas da Unesco devemos ousar impulsionar estas áreas e fomentar a dimensão económica associada.

Contrariamente às conceções conservadoras de alguns, a valorização das artes e dos ofícios, a (s) sua (s) materialidade (s) e o que significam, têm, atualmente, um nicho num mercado global que podem permitir alavancar o território onde vivemos porque, pelo menos uma parte delas, são ainda artes e ofícios “vivos”. Como parece óbvio, este trabalho assume uma importante componente de sensibilização, diria mesmo de literacia para a importância das artes e ofícios na sociedade, e de qualificação dos nossos artistas e artífices e dos seus produtos. Este trabalho, a meu ver, apenas pode ser construído em diálogo e é por isso que defendo a importância do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) ou da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) em todo este processo, entre outros.

Castelo Branco tem de saber aproveitar o facto de ter no seu território um conjunto de instituições poderosas que podem permitir qualificar este nicho local com potencial global.  Estou certo, como não podia deixar de ser, que essas instituições, e muitas outras, estão disponíveis para cooperar no processo de desenvolvimento territorial e que a colaboração entre todos é uma inevitabilidade em benefício da nossa comunidade.  

A este propósito, o Município de Castelo Branco, entre os dias 23 e 27 de Novembro, no âmbito do processo de internacionalização do Bordado de Castelo Branco, participou na 4ª Edição da Bienal “De Mains de Maitres”, subordinada ao tema “O gesto e o território”, que se realizou no Luxemburgo. Participaram, na cerimónia de abertura, o Ministro da Cultura Luxemburgês, Eric Thill, e a Secretária de Estado da Cultura portuguesa, Isabel Cordeiro.

No contexto deste certame internacional, tivemos oportunidade de apresentar aquele que é um dos nossos produtos artísticos de excelência: o Bordado de Castelo Branco. Além da impressionante colcha de Castelo Branco, as nossas Bordadoras evidenciaram o seu Saber-Fazer numa oficina criativa cujas inscrições esgotaram rapidamente. Foi muito gratificante perceber o destaque e o interesse dos visitantes relativamente ao Bordado de Castelo Branco.

A colcha que faz parte da exposição tornou-se, embora sendo suspeito, na principal protagonista da exposição. O pano de fundo de todos os discursos oficiais, acompanhados pelos meios de comunicação, dos dirigentes do Luxemburgo e da Secretária de Estado da Cultura, foi a colcha de Bordado de Castelo Branco. A luminosidade que a “nossa” colcha trouxe ao evento é, efetivamente, ímpar, sem prejuízo de todos os saberes e materialidades ali presentes.

Referi à equipa que aquele evento constituiu uma verdadeira “exposição com alma”. Uma alma que representa bem um povo, o saber-fazer, a tradição, o simbólico e todo o potencial económico deste setor. Precisamos cada vez mais de investir, em colaboração, na economia, no empreendedorismo direcionado para as artes e ofícios. A materialidade que pude apreciar é fruto da criatividade, da tradição, de um saber-fazer que no seu âmago tem princípios há muitos séculos que potenciam a sustentabilidade ambiental, a inteligência do homem e a economia regional e local.

Se todos soubermos cooperar e trabalhar em rede encontraremos caminho para valorizar as nossas gentes, os nossos territórios e criar valor associado a um potencial imenso que sabemos que existe, mas que, a meu ver, tem sido pouco valorizado.

Ao trabalho! Vamos cooperar e potenciar o nosso território!

Helder Henriques    

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